terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Brasil : dois negros assassinados para cada branco, revela Mapa da Violência

As taxas de homicídio no Brasil no ano de 2010 foram em média duas vezes maiores para vítimas de cor negra em comparação aos homicídios contra brancos. O número consta do Mapa da Violência 2012 divulgado no dia 14 de dezembro em São Paulo pelo Instituto Sangari, que considerou estatísticas dos ministérios da Saúde e da Justiça e se valeu, por exemplo, de documentos como certidões de óbito e boletins de ocorrência.
Além da diferença estatística de assassinatos, a pesquisa mostra ainda que as taxas vêm reduzindo em relação a brancos, nos últimos dez anos, enquanto que, para negros, elas têm crescido.
Na média nacional, em 2002, o mapa aponta uma taxa de 20,6 assassinatos de brancos, a cada 100 mil habitantes, e de 30 para negros. Em 2010, esse índice cai para 15 homicídios de vítimas brancas, mas sobe para 35,9 entre as pessoas negras.
O mapa, que teve divulgada sua 12ª edição desde 1998, fez um levantamento dos homicídios dos últimos 30 anos (1980 a 2010), com detalhamento das taxas de assassinato na década passada.
Conforme a pesquisa, Paraná, Rondônia e Mato Grosso encabeçam a lista de homicídios brancos, respectivamente com as taxas de 39, 25,6 e 20,9 assassinatos por 100 mil habitantes. Já o Nordeste se destaca nas taxas de homicídio contra negros: Alagoas e Paraíba apresentam uma escalada desde 2002 para, em 2010, apresenta-las proporcionalmente 20 vezes maior ao das vítimas brancas. Em AL, a taxa é de 84,9; na PB, 58,8.
Para o coordenador da pesquisa e diretor de pesquisas do instituto Sangari, o sociólogo Julio Waiselfisz, os números revelam também aspectos econômicos.
“Morte de brancos é menos visível na mídia, mas seu menor número pode ser atrelado à privatização do sistema de segurança --quem pode pagar, acaba usufruindo”, disse.
Estados como Pernambuco, Distrito Federal e Sergipe também são mostrados como aqueles em que os homicídios contra negros são mais altos. Para os pesquisadores, o dado é “preocupante”, ainda mais considerada tendência de alta.
Confira a publicação na íntegra na Biblioteca do Portal ANDI.
Mais de um milhão de assassinatos
O Mapa da Violência recevou que cerca de 1,1 milhão de brasileiros foram assassinados nos últimos 30 anos (de 1980 a 2010) no país, em um processo de disseminação da violência no qual cidades do interior já ditam o ritmo de crescimento dessas taxas. Com o aumento da população nesse período, a taxa de homicídios, que na década de 80 era de 11,7 em cada grupo de 100 mil habitantes, passou para 26,2 em 2010 --um aumento de 124%.
"É como se uma cidade inteira tivesse sido atingida por uma bomba atômica", disse o coordenador da pesquisa.
Conforme o mapa, o forte processo de interiorização dos homicídios foi observado a partir do momento em que as taxas passaram a sofrer redução em capitais e regiões metropolitanas, na década passada, mas aumento de ritmo em cidades de interior.
Em 1995, por exemplo, enquanto nas capitais a taxa era de 40,1 homicídios em 100 mil habitantes e, no interior, de 11,7, em 2010 a taxa quase duplica no interior (22,1) e cai nas capitais (33,6).
"Em menos de uma década, se esse ritmo seguir, o interior deverá ultrapassar os grandes centros urbanos", disse Waiselfisz. Em coletiva na USP (Universidade de São Paulo), ele afirmou que os trabalhos foram feitos a partir de informações fornecidas ou disponibilizadas na internet pelos ministérios da Saúde e da Justiça, como certidões de óbito e boletins de ocorrência. O Estado em que os índices de homicídios são mais altos, de acordo com o mapa, é Alagoas, seguido por Espírito Santo, Pará, Pernambuco e Amapá.
O estudo aponta ainda que os 17 Estados que apresentavam as menores taxas de homicídio na virada do século tiveram aumentos significativos nesses índices, enquanto em sete outros Estados as taxas caíram. No ano 2000, os sete maiores tinham uma taxa conjunta de 45,6 homicídios em 100 mil habitantes, e os 17 menores, 15,4.
Homicídios no Brasil superam conflitos armados
O número de quase 1,1 milhão de brasileiros assassinados ao longo de três décadas é muito superior, por exemplo, aos 45 mil mortos em 36 anos de guerra civil na Colômbia e praticamente o dobro dos 550 mil assassinatos da guerra civil em Angola.
Os dados foram compilados no mapa, para efeito de comparação, e listam ainda conflitos armados como a luta pela independência do Timor Leste --na qual, em 26 anos, 100 mil foram mortos --e a disputa territorial-religiosa entre Israel e Palestina, na qual, em 53 anos (1947-2000), 125 mil foram assassinados.
"Considerando que não temos conflitos étnicos, políticos ou religiosos no Brasil, podemos dizer que se mata muito mais gente aqui do que em outros conflitos armados no mundo", reforçou o coordenador do mapa.
Capitais mais violentas
Pelo ranking das capitais, metade das que apresentaram as taxas de homicídios mais altas de 2000 a 2010 estão no Nordeste. A lista é puxada por Maceió (AL), com 109,9 homicídios por 100 mil habitantes, e que era a oitava em 2000. João Pessoa (PB), com 80,3, pulou da 13ª colocação para a segunda colocação (80,3).
Ainda entre as dez capitais, Recife (PE), com 57,9, é a quarta com mais assassinatos era o primeiro lugar na lista de 2000. São Luís (MA) é a quinta colocada, com 56,1, Salvador (BA) a sétima, com 55,5 (era a 25ª há 10 anos) e Belém (PA), com 54,5, é a oitava --era a 21ª em 2000.
Completam o grupo Curitiba (PR), sexta colocada, com 55,9, Vitória (ES), a terceira, com 67,1, Porto Velho (RO), em nono com 49,7, e Macapá (AP), décima colocada 49 homicídios a cada 100 mil habitantes.
Estados
No ranking por Estados, Alagoas aparece como o mais violento, com taxa de 66,8 homicídios por 100 mil habitantes. Na sequência vêm Espírito Santo (50,1), Pará (45,9), Pernambuco (38,8), Amapá (38,7), Paraíba (38,6), Bahia (37,7), Rondônia (34,6), Paraná (34,4) e Distrito Federal (34,2).
As unidades com as menores taxas, de acordo com o mapa, são Santa Catarina (12,9), Piauí (13,7) e São Paulo, que, com 13,9 homicídios por 100 mil habitantes, tiveram queda de 67% no índice em comparação a 2000.

(Fonte: UOL Notícias, em São Paulo).

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