quinta-feira, 4 de março de 2010

Prefeito descarta se retratar por terreiro demolido

O prefeito João Henrique recusou-se ontem a fazer qualquer retratação pública sobre a demolição do terreiro Oyá Unipó Neto, realizada por agentes da Superintendência de Manutenção, Conservação e Uso do Solo (Sucom). Desde a noite de sexta-feira, o coordenador geral do Coletivo de Entidades Negras, Marcos Rezende, diz estar em greve de fome para obrigá-lo a pedir desculpas aos adeptos do candomblé. A reconstrução da casa de candomblé, no Imbuí, garantida pela prefeitura, ainda não tem data para iniciar.

“Da parte da prefeitura nós fizemos tudo o que foi possível. Nós já reparamos os excessos cometidos pelo fiscal da Sucom que cumpriu a ordem de demolição. Não vejo necessidade de fazermos uma retratação”, declarou à tarde João Henrique, que é evangélico. Ele falou sobre o assunto após cerimônia de posses do secretário de Educação, Carlos Soares, e do novo superintendente da Sucom, Cláudio Silva, e do presidente do IPS, Ricarte Passos, no Palácio Thomé de Souza.

O prefeito, através do secretário de Comunicação, André Curvello, já havia dito que nenhum outro templo de religioso seria demolido na cidade. Exonerada da Sucom, mas ainda à frente da Secretaria de Planejamento, a qual a Sucom é subordinada, Kátia Carmelo engrossou o coro contrário a um pedido de desculpas do chefe do executivo municipal. “A decisão do órgão foi respaldada pelos processos fiscais do órgão”.

Não é esta a opinião de Rezende e outros representantes de entidades ligadas ao culto afro, a exemplo da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia (AFA). “Não adianta apenas prometer a ressarcir o prejuízo material. João Henrique tem que se dar conta da gravidade do erro da prefeitura e se retratar pessoalmente, e não através de intermediários”, disse Resende.

Ele dorme no Unipó Neto desde a sexta-feira à noite, quando diz ter iniciado o jejum. No período diz ter ingerido apenas água, soro, e acaçá - pequeno alimento feito a partir do milho, considerado adeptos do candomblé. “Tem a mesma importância do que a hóstia para os católicos”.

Filho de Xangô, Marcos Rezende freqüenta o terreiro Ilê Axé Oxumarê, no Engenho Velho da Federação. Antes de ser levado para depôr no Ministério Público Estadual (MPE), que apura o caso, ele foi medicado por uma equipe do Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (Samu), no início da tarde. “É preciso que a prefeitura inclua o Unipó Neto no programa de regularização fundiária, para evitar que depois de erguido, o terreiro venha a ser destruído novamente”.


Notícias originalmente publicado em 4 de março de 2008 | Correio da Bahia


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