quinta-feira, 21 de abril de 2011

Comissão da Igualdade discute denúncia de intolerância religiosa em Camaçari


“Viemos ouvir todos os lados. Porém, temos uma certeza, precisamos fazer respeitar a que garante a Constituição. E intolerância e racismo são crimes perante a lei”. Foi com esse pensamento que o presidente da Comissão Especial da Promoção da Igualdade (Cepi) da Assembléia Legislativa, deputado estadual Bira Coroa (PT), conduziu, nesta quarta-feira (20), uma audiência pública do colegiado para debater denúncia de prática de intolerância religiosa contra uma escola municipal em Camaçari.

Prestes a completar dois meses de atividade, a Escola Municipal Zumbi dos Palmares é fruto de convênio entre a Prefeitura e o terreiro de candomblé Lembá, porém funciona dissociada da casa religiosa e com a mesma orientação pedagógica das outras unidades de ensino fundamental, sob responsabilidade da Secretaria municipal de Educação.

A discussão aconteceu na própria cidade, no auditório da Cidade do Saber, e ouviu o coordenador da escola Ricardo Tavares, que também é o Tata Inkissi do terreiro, que provocou o Ministério Público a investigar uma suposta campanha de discriminação deflagrada pelo líder comunitário Arailton Rodrigues, que, apesar de convidado, não compareceu à audiência.

Denúncia – "Ele disse que Zumbi dos Palmares não podia ser nome de escola. Que lugar de macumba não é lugar de criança estudar. Que a merenda escolar era oferenda para satanás e que em nossos rituais sacrificávamos crianças", desabafou o tata Ricardo, para quem Arailton se dizia evangélico.

Para o pastor Paulo Passos, presidente do Conselho de Ministros Evangélicos de Camaçari – COMEC, a atitude “deste suposto evangélico” não deve ser estendida às igrejas cristãs. “Em nossa igreja, não comungamos com este procedimento. Mas este momento é importante, pois é na adversidade que se cresce. Defendo a ideia de que podemos não concordar um com o outro, mas quem descrimina merece cadeia”, disse o representante, revelando não ver problema no funcionamento da escola.

Em blogs da cidade, Arailton nega fazer perseguição religiosa, diz que a questão é socioambiental e acusa a prefeitura de Camaçari de erguer a escola em área contaminada por produtos químicos. Na audiência, a informação foi negada pelo vereador José Marcelino (PT): “Esta informação já foi desqualificada pelos órgãos ambientais competentes. A escola pode funcionar onde está”.

Para Bira Corôa, o fato, apesar de lamentável e mesmo ainda em investigação, já serviu como demarcador de uma nova postura que passará a ser adotada no estado. Tal pensamento foi ampliado pelo vice-presidente da Comissão, deputado Carlos Geilson (PTN), para quem é preciso “construir uma consciência coletiva de que ninguém é melhor que ninguém, que nenhuma religião é melhor que outra”.

Diálogo – "Temos uma escola funcionando em uma igreja evangélica, outra em um centro espírita. Então, qual é o problema de existir uma escola em um terreiro de candomblé?”, questionou o prefeito da cidade, Luiz Caetano, defendendo a necessidade de mostrar para a sociedade como um todo que estas atitudes não devem se proliferar.

Ao final da audiência, as diversas autoridades presentes e representantes de movimentos sociais, organizações não-governamentais, igrejas evangélicas e terreiros de candomblé assumiram divulgar e promover ações conjuntas, formando uma caravana da cidadania itinerante, na qual sejam acolhidos casos de denúncias desta natureza. Esta ação sugerida pela promotora do Ministério Público, Márcia Virgens, ficou mais robusta com a ideia de ampliação do diálogo interreligioso proposto pelo coordenador de Cidadania e Promoção de Direitos Humanos da Secretaria estadual da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Marcos Rezende.

Também participaram da mesa: Ivonete Mota Reis, coordenadora de Reparação do Município de Camaçari; Mãe Déu, do terreiro Ilê Axé Ioromim; pastor Joilton de Jesus, presidente da Associação Brasileira dos Ministros Evangélicos – AmeBrasil; além dos secretários municipais Vital Vasconcelos (Cultura) e Luís Valter de Lima (Educação).

quarta-feira, 30 de março de 2011

SJCDH apresenta projeto Justiça Comunitária a lideres do Beirú

A proposta do Núcleo de Justiça Comunitária – projeto que faz parte das ações do Programa de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) – foi apresentada nesta quarta-feira (30) por representantes da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH) aos lideres comunitários e professores de escolas públicas do bairro de Beirú/Tancredo Neves. O projeto é uma ação realizada por meio de Convênio entre o Ministério da Justiça e a SJCDH e visa capacitar lideranças das comunidades para mediar conflitos dentro da comunidade e promover a convivência sem violência.

O encontro desta quarta-feira foi realizado na Casa Pronasci – local que disponibilizará diversos serviços para a comunidade e que deve começar a funcionar no bairro a partir do próximo mês. Em Beirú/Tancredo Neves, o objetivo é capacitar pelo menos 30 lideres comunitários para que eles possam resolver conflitos através do diálogo e, a partir disso, fortalecer as redes sociais que também ajudam na prevenção e resolução desses conflitos. Além do Beirú, serão instalados mais dois Núcleos em Salvador, um em Lauro de Freitas e um em Camaçari.

No encontro, o secretário da Justiça, Almiro Sena, defendeu a proposta da formação de mediadores de dentro da comunidade por entender que eles, por serem moradores do local, podem identificar melhor as causas dos conflitos. “Ninguém melhor do que os moradores para trabalhar como agentes do Núcleo. Tenho certeza de que eles buscarão resolver os conflitos sempre da melhor forma possível. Nós, da Secretaria da Justiça, entramos com os conhecimentos técnicos. Eles, com a experiência de viver na comunidade”, afirmou Almiro Sena.

Mediadores

Para participar do programa, a Secretaria selecionará, dentro da comunidade, pessoas maiores de 18 anos, que tenham experiência com trabalhos sociais, voluntariado ou movimentos populares. De acordo com o coordenador de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos da SJCDH, Marcos Rezende, eles passarão por um curso de formação de agentes do Justiça Comunitária, com carga horária de 60 horas. Uma vez aptos, atenderão solicitantes que estejam envolvidos em conflito. A expectativa é que essa seleção ocorra ainda no mês de abril.

Pronasci em Beirú/Tancredo Neves

O Núcleo de Justiça Comunitária funcionará na primeira Casa do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) de Salvador, instalada em Beirú/Tancredo Neves. A Casa integra o projeto do Governo Federal “Território de Paz” e será coordenada pela Secretaria da Justiça, responsável pelo desenvolvimento das ações sociais do Programa na Bahia.

Além do Núcleo, a Casa Pronasci terá postos da Superintendência de Apoio e Defesa do Consumidor (Procon), da Defensoria Pública, do Ministério Público, da Ouvidoria da Secretaria da Segurança Pública para prestar atendimento gratuito à população. O local abrigará também as coordenações do Mulheres da Paz e do Proteção de Jovens em Território Vulnerável (Protejo), dois dos projetos do Pronasci em Beirú/Tancredo Neves.

Outras intervenções realizadas por meio do Pronasci são a reforma e recuperação da Praça Sérgio Carneiro e do Anfiteatro, ambos no bairro do Arenoso, sob a coordenação da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) e supervisão da Secretaria da Justiça. A Conder também é responsável pelas obras na Praça da República e pela construção da Praça da Juventude, ambas no Beirú/Tancredo Neves. Segundo o coordenador executivo do Pronasci Bahia, Cláudio Melo, essas intervenções urbanas vão ajudar a atingir a meta do Programa Nacional que busca articular políticas de segurança com ações sociais.

terça-feira, 1 de março de 2011

Coordenador do CEN elogia ações municipais voltadas às crianças e adolescentes

"Eu acredito que Vitória da Conquista é um exemplo a ser seguido e vir para cá é uma forma de aprendermos e levarmos essa experiência para todo o Estado", disse Marcos Rezende.

Com o tema “A Criança, o adolescente e a conquista da cidadania – Uma visão étnico-social”, Marcos Rezende, assessor parlamentar da Comissão de Promoção da Igualdade e Coordenador Geral do Coletivo de Entidades Negras/CEN-BA palestrou na abertura do Seminário Municipal “A criança, o adolescente e a conquista da cidadania”, na noite desta segunda feira (28). O evento, destinado aos mais de 250 educadores da Rede Municipal de Atenção e Defesa da Criança e do Adolescente, é uma realização da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social.

Marcos iniciou a palestra chamando a atenção para a necessidade de combater as desigualdades que atingem crianças e adolescentes no país, especialmente o racismo e reiterou a importância da conscientização da comunidade junto aos órgãos públicos para combaterem o racismo. “Por mais que o prefeito, o judiciário e o executivo trabalhem em prol da qualidade de vida e defesa dos direitos das crianças e adolescentes, é importante ter um esforço de cada cidadão, independente de ser educador, para mudar o quadro de racismo institucional e da violência contra a criança e adolescente porque só assim teremos uma verdadeira transformação social”, afirmou.

Segundo Marcos, uma série de dados demonstra que boa parte dos educadores, independente da cidade ou Estado, carrega em si a característica da discriminação. “Embora seja algo difícil de mensurar, porque ninguém diz que é racista, não podemos negar a necessidade de discutir e combater o racismo para fazer com que os educadores consigam tratar de forma igual a criança e o adolescente”, disse.


Marcos destacou ainda que ações como o seminário são para intensificar e fortalecer as que já existem na cidade. “Os elementos que temos sobre a Prefeitura de Vitória da Conquista e sobre o que o prefeito Guilherme Menezes vem desenvolvendo com toda a sua equipe há algum tempo demonstram a seriedade e compromisso desta gestão para com as crianças e adolescentes. Eu acredito que Vitória da Conquista é um exemplo a ser seguido e vir para cá é uma forma de aprendermos e levarmos experiência para todo o Estado”, declarou.

Nesta terça (1º) e quarta (2), especialistas das áreas de assistência social, psicopedagogia e jurídica ministrarão palestras com as discussões mais atuais sobre o tema criança e adolescente. A partir das 8h no Auditório do Polo Permanente de Educação do Cemae, situado à Avenida Olívia Flores.

Conheça mais sobre a Rede Municipal de Atenção e Defesa à Criança e Adolescente – Engloba diversos projetos como o Programa Conquista Criança e o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, além de atender 13 entidades governamentais e não-governamentais do município oferecendo cursos educacionais e profissionalizantes às crianças e adolescentes participantes.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nota de esclarecimento do CEN sobre as notícias veiculadas no site da Afropress a respeito do Caso da Ialorixá Bernadete Souza de Ilhéus

No dia 23 de outubro fui notificado sobre o ato de agressão de policiais militares contra a Ialorixá Bernardete Souza Ferreira dos Santos através Coordenadora do CEN, Lindinalva de Paula, Equede de Iemanjá e irmã de santo da Iyá Bernadete , seguido do contato de André de Oxum (também irmão de axé da vítima) e Moacir de Obaluayê ,marido de Bernadete e parte envolvida no caso.

Desde o princípio buscamos coletar todas as informações possíveis sobre o caso, com objetivo de dar o melhor encaminhamento ao caso de intolerância religiosa, de violação dos direitos humanos e cidadão, portanto gravíssimo e precisa ser apurado sem corporativismo e dentro do rigor da lei, cuja pena vai de um a três anos de reclusão e multa. Inicialmente levamos o caso à Comissão Especial de Promoção da Igualdade da Assembléia Legislativa do Estado da Bahia (ALBA), que é presidida pelo Deputado Bira Côroa, assim como levamos o caso ao Deputado Estadual Valmir Assunção, uma vez que este tem dupla pertença sobre o caso, na condição de ser uma liderança negra do MST nacional.

Ao longo desse período foram realizadas reuniões diversas, todas com participação do CEN, através dos seus representantes, e a nossa análise desde o início é que seria de fundamental importância formular uma resposta à altura da intolerância praticada por agentes públicos, e conjuntamente com várias organizações do movimento negro e religiões de Matriz Africana alinhamos uma ampla frente, demonstrando atenção e o merecido respeito a este caso.

Dentro das nossas atribuições, enquanto uma organização não governamental, sem fins lucrativos e sem vínculos político-partidários, que dentre os objetivos nos destacamos na defensa dos direitos e interesses das comunidades religiosas de matriz africana, no dia 29 de outubro, encaminhamos conjuntamente com representativas entidades de direitos humanos nacionais e internacionais à ouvidoria da SEPPIR, a Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres, a Secretaria Especial de Direitos Humanos e para o Conselho Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, cujo texto pode ser acessado através do link http://www.petitiononline.com/cen002/petition.html


Adicionalmente, articulamos junto ao Deputado Bira Côroa uma reunião com a Secretaria de Relações Institucionais do governo do Estado da Bahia (SERIN) e com o Secretário de Segurança Pública César Nunes.

Apoiamos publicamente e auxiliamos na construção de todas as deliberações do grupo em defesa da Iyalorixá Bernadete Souza, que são as abaixo discriminadas:


1. Exoneração do Secretário de Segurança Pública, Dr. Cesar Nunes;

2. Apuração imediata do todos os fatos ocorridos com a punição dos responsáveis;

3. Afastamento do Corregedor Adjunto da Polícia Militar do caso, por produção de relatório com vícios;

4. Criação de um grupo gestor propositivo para fazer parte das discussões e análises da segurança pública do Estado da Bahia;

5. Reformulação do Conselho Estadual de Segurança Pública;

6. Pedido formal de desculpas por parte do Governador Jacques Wagner;


No dia 10 de novembro, o governador Jaques Wagner recebeu a Ialorixá Bernardete, acompanhada lideranças religiosas como Egbomy Nice do Terreiro da Casa Branca, Babalorixá Pecê do Terreiro de Oxumarê, Iyá Jaciara Ribeiro do Terreiro Abassá de Ogum e lideranças do movimento negro e nesta, mais uma vez, reiteramos e reafirmamos nossos compromissos assumidos conjuntamente com as demais entidades do movimento negro e de religiosos.

Também ressaltamos que o caso foi abordado durante as atividades da 6ª Caminhada pela Vida e Liberdade Religiosa, como pode ser verificado através do endereço http://www.biracoroa.org/noticias_detalhe.asp?noticia_id=104, onde no dia 19 de novembro, na Sessão Especial referente ao dia da Consciência Negra na Assembléia Legislativa, a Iyá Bernadete foi convidada ao púlpito para denunciar o grave fato ocorrido e no 21 de novembro, durante entrevista concedida a Rede Bahia/TV Globo, denunciamos a ocorrência do fato de Ilhéus, como pode ser verificado através do endereço http://cenbrasil.blogspot.com/2010/11/vi-caminhada-pela-vida-e-liberdade_23.html .


Na sexta-feira, 26 de novembro, o deputado estadual Bira Corôa presidindo a Comissão Especial de Promoção da Igualdade da Assembleia Legislativa (CEPI) realizou Audiência Pública no Município de Ilhéus para discutir com órgãos do Governo do Estado, entidades, e sociedade civil, a Invasão ao Assentamento Dom Helder Câmara por policiais da 70ª CIPM (Companhia Independente da Polícia Militar de Ilhéus) culminado na agressão e tortura da Yalorixá Mãe Bernadete.

Durante o evento a Comissão de Mobilização representada pelo Coletivo de Entidades Negras (CEN), Movimento Negro Unificado (MNU), Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN), Campanha Reaja, o Fórum Estadual de Juventude Negra e outros reivindicaram resposta ao documento encaminhado ao Governador Jaques Wagner.

Ao final da Sessão o deputado estadual Bira Corôa registrou alguns encaminhamentos como a aprovação de Audiência Pública na Câmara Federal na primeira quinzena de dezembro pelo deputado federal Luiz Alberto, também colocou a Comissão Especial de Promoção Igualdade (CEPI) como instrumento permanente de acompanhamento do caso e fez um apelo às instituições policiais para que estes saiam da audiência com a responsabilidade de zelarem pela vida dos envolvidos. Bira Corôa conclui afirmando que a sociedade deve mostrar o tamanho da sua indignação e sua insatisfação a ações e atos como o ocorrido no Assentamento Dom Helder Câmara.

Tomo o cuidado de relatar todo este processo para explicitar que na função de Coordenador-Geral do CEN e no contato que mantivemos com as diversas entidades citadas neste documento, em nenhum momento aconteceu qualquer choque de interesse por motivos espúrios e de subserviência devido a relações políticas partidárias ou por partidarismo.

Cabe ao CEN como sempre, a independência política, seriedade e compromisso que sempre tivemos com a causa e as nossas bandeiras de luta. Devido a isto, refutamos as notícias que foram postadas no site Afropress e que citam a mim, e ao CEN através das matérias: Advogados deixam caso em protesto à Operação Abafa e dirigente do MNU confirma Abafa, postadas respectivamente nos dias 23/11/2010 e 25/11/2010.

Em tempo, informamos que nutrimos por este veiculo de comunicação, o maior respeito e deferência por todo o serviço prestado a comunidade negra e a sociedade brasileira como um todo.

Marcos Rezende.
Coordenador-Geral do CEN

domingo, 28 de novembro de 2010

O papel do Coletivo de entidades Negras (CEN) no processo de Regularização Fundiária dos Terreiros de Salvador

A demolição do Oyá Onipó Neto em Salvador no dia 27 de fevereiro de 2008 deixou profundas marcas nas comunidades de terreiros de todo o Brasil. O fato em si causou muita comoção e também a unidade nacional entre religiosos de matrizes africanas.
O fato teve do Coletivo de Entidades Negras (CEN) uma atenção especial sendo que devido a gravidade dos fatos, fiz greve de fome durante quase uma semana em protesto à ação arbitrária ocasionada por prepostos da prefeitura de Salvador.
Ainda em meio à comoção geral e a Audiência Pública na Assembléia Legislativa solicitada pela Comissão especial de Promoção da Igualdade (CEPI), foi criada uma frente em defesa do Terreiro e algumas exigências foram postas. Sendo elas abaixo enumeradas:
1. Pedido de desculpas formal do Prefeito de Salvador e a garantia de que atos como aquele não mais aconteceria com qualquer outro templo religioso de Salvador de qualquer religião que fosse;

2. Reforma do Terreiro Oyá Onipó Neto e a garantia da permanência do mesmo no local;

3. Encaminhamento de um Projeto de Lei a Câmara de Vereadores que garantisse a Regularização fundiária de todos os terreiros de Salvador;

As duas primeiras exigências foram cumpridas quase que de maneira imediata, apesar da certeza de que o prejuízo religioso nunca foi e não será reparado, mas a referente à Regularização Fundiária dos Terreiros de Candomblé foi encaminhada para Câmara de Vereadores através de um Projeto de Lei para apreciação dos vereadores para alteração da Lei Orgânica do Município.

A proposta inicial de emenda a Lei Orgânica que foi enviada à Casa Legislativa pelo Poder Executivo desapareceu e após denúncias a mesma voltou à pauta. O projeto inicial previa originalmente a regularização fundiária apenas para os terrenos ocupados por terreiros de candomblé, mas os vereadores da bancada evangélica pressionaram para que o projeto fosse alterado, de modo a beneficiar também outras denominações religiosas, o que inicialmente gerou resistência por parte dos religiosos de matrizes africanas, haja visto que temos a especificidade de todo o tipo de perseguição religiosa na nossa história, mas como lutamos contra todo e qualquer tipo de intolerância religiosa, por fim acatamos a resolução, apesar de pontuarmos o princípio de reciprocidade.
Salientamos que o projeto de regularização fundiária dos terreiros foi concebido a partir da luta do CEN e de outras entidades do movimento social negro como forma de REPARAÇÂO aos estragos causados a todos os religiosos de matrizes africanas através da demolição do Oyá Onipo Neto e como forma de minimizar o impacto negativo produzido pela atitude intempestiva da ex-secretária municipal de Planejamento, Kátia Carmelo, que comandou a derrubada do templo da Boca do Rio, num ato de intolerância religiosa que repercutiu em todo o país.
O texto de nº 01/09 que altera o art. 14 da Lei Orgânica do Município estendeu os benefícios relacionados à regularização fundiária dos terreiros a outras religiões. Além disso, determina que os terreiros terão que se adequar ao que manda a Lei 7216/07 (que trata do Patrimônio Histórico e Cultural Africano e Afro-brasileiro) para ter acesso ao benefício gerando assim um efeito contrário aos religiosos de matrizes africanas, uma vez que nós, religiosos de matrizes africanas construímos todo este processo e ainda assim somos os únicos a ter que dar provas quanto a nossa pertença religiosa para sermos contemplados, garantia esta que nenhuma outra denominação necessitará dar.
Após muito trololó no dia 21 de dezembro de 2009 foi aprovado em primeira instância na Câmara Municipal o projeto de regularização fundiária dos templos religiosos ficando a votação em segundo turno para ser apreciada no início deste ano, fato este que não aconteceu. Sendo que somente agora, no dia 17 de novembro, próximo a data comemorativa do Dia da Consciência Negra (20 de novembro) é que foi votado em segundo turno e aprovado por unanimidade o Projeto de Regularização Fundiária dos Templos Religiosos.
Os benefícios desta Lei para os Terreiros de Candomblé esta no fato de um avanço significativo na luta do povo de santo.
A regularização fundiária concede o título de posse aos proprietários de todos os templos religiosos de Salvador que ainda não o possuem, estima-se, no que diz respeito aos terreiros de candomblé, um total aproximado de 480 templos, e conseqüentemente garante a isenção de impostos e finalmente a certeza de que atos de intolerância religiosa como o do Oyá Onipó Neto não mais acontecerão iniciando assim um novo momento na história de conquistas dos religiosos de matrizes africanas.
Nós, religiosos de matrizes africanas da cidade de Salvador e com o auxílio dos candomblecistas de todo o Brasil e de outros países do mundo marcamos mais uma vez o nosso nome nas lutas políticas da cidade e de quebra trouxemos benefícios para todas as demais religiões. Cabe agora perguntar a eles quais são as disposições para construir processos baseados em respeito à diversidade religiosa e de parceria na busca cotidiana de um mundo melhor, o que certamente é o desejo de toda e qualquer religião seguindo qualquer que seja o princípio fundamental da criação.

Marcos Rezende
Coordenador Geral do CEN
Ogan confirmado para Ewá do Ilê Axé Oxumarê e Historiador

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