13a Caminhada Azoany |
Para numerologia o mês 8 é o mês do julgamento e da justiça, já na China é o número da prosperidade. E é justamente a partir dessas crendices que faço uma breve análise sobre este mês e as terríveis notícias que nos assolam.
A atual conjuntura nacional mostra as sucessivas alterações necessárias para combater a corrupção em alguns ministérios do governo federal, e a crise da segurança pública ao contarmos cotidianamente os corpos negros e jovens no mármore frio dos IMLs, sem esquecer o campo político de esquerda, percebe-se a manutenção da dificuldade de defendermos os nossos indevassáveis limites ideológicos. O panorama internacional é de dúvidas com relação aos mercados internacionais, ao sistema financeiro norte americano e mundial, além da certeza da fome que assola o continente africano no seu chifre, através da Somália, Quênia e Etiópia.
A boa notícia é que este é o mês que nos remete a Azoany, ao seu reinado e a ancestralidade africana. Azoany, Omolú ou Obaloayê é o Inquisse/Orixá da cura. Apresenta-se sob um manto de palhas, daí a nossa insegurança, o nosso medo do desconhecido, do outro a que não temos pertencimento, mas daí também a necessidade de adotarmos novos rumos, novas posturas e entender que muitas vezes o remédio pode parecer diferente, estranho e amargo, mas cura.
Nas Religiões de Matrizes Africanas, agosto é o mês de transformações, de ousar. Mês de curar as doenças e as mazelas, certamente por isto os enfermos ou fragilizados sentem a angústia pela aproximação deste mês, pelos diversos sofrimentos que os afligem, pois quem está doente tem dificuldade de enxergar as saídas e alternativas. Concentra-se na dor e não na doença que a causa. O filósofo francês Paul Ricoeur sustenta que toda a causa é motivo, mas nem todo o motivo é causa. Mas, como diriam as minhas egbomys (mais velhas e sábias) lá do Terreiro, meu filho “isto é outra história”, principalmente para os bons entendedores.
Agosto tende a ser o mês de novos rumos para os mais audazes. Momento onde acontecem rupturas positivas, até para muitos céticos e ateus, que mesmo sem saber ou acreditar as adotam como algo necessário.
Assim fizeram aqueles ex-militantes da Articulação de Esquerda que desejam sonhar e resgatar as bandeiras e causas muitas vezes tratadas como perdidas como bem traduz o filósofo político e pensador marxista esloveno Slavoj Zizec no livro “Em Defesa das Causas Perdidas” ao nos afirmar que o pensamento social crítico relacionado às lutas revolucionárias não pode ficar a deriva, ou na defensiva. Então que possamos partir para o ataque, respeitando, é claro, os valorosos companheiros de luta que se mantiveram, mas que sigamos aglutinando os valores revolucionários da modernidade.
Trabalhadores, ou melhor, movimento sem terra, mulheres, negros, LGBT, Religiosos de Matrizes Africanas e todas as frentes de luta, mesmo com suas identidades e idiossincrasias, uni-vos.
Enfim, se para uns Agosto é o mês do desgosto, para outros, Agosto é esperado com muito gosto!
Marcos Rezende.
Historiador | Coordenador do Coletivo de Entidades Negras | Ogan do Ilê Axé Oxumarê
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